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09 junho 2010

Primeiro post \O/

Bem, esse é o meu primeiro post.. e eu queria começar com algo que realmente importa para mim. É um tanto triste, mas como eu vou postar o que der na telha, bora lá ;D



"Era só mais um domingo de dezembro. Quente, bonito, pra ser sincera, um domingo muito agradável.
Eu não a via já tinha quase um mês. As ultimas noticias que tive eram de que ela estava em sã consciência, se recuperando cada vez mais rápido, e andando! Sim, andando. Perambulando o dia todo pelos corredores da casa de repouso em que estava.

Seus dias eram “felizes”. Tomava seus remédios diariamente sem que tivessem que se preocupar.

Fui visitá-la, matar a imensa saudade que tinha.

Desci a rampa que dava acesso a casa, e a vi com minha tia. Radiante como sempre, sorrindo e questionando sobre algo.- Oi vovó, estava com saudades de você! – eu disse sorridente, olhando para aquele rostinho enrugado que me dava certa segurança.

Ela me olhava profundamente, como se estivesse tentando descobrir meus segredos apenas com o olhar. E por incrível que pareça, através dos anos na sua presença, ela conseguia desvendar o que eu escondia.


- Quem é ela? – perguntara a minha tia.


- É a sua neta, a Gabi... a senhora não lembra dela?


- Não. – respondeu com palavras frias que soaram como uma navalha no meu coração.


- Vó sou eu, Gabriella, lembra? – e eu tentava investir naquilo. – A senhora não lembra de mim?


E aqueles olhinhos miúdos me fitavam intensamente e aquilo me matava cada vez mais.

- Ga... bri... ella... a senhora não lembra?? – eu falava pausadamente sorrindo desesperada em busca de resposta e nada.

O meu mundo desmoronava, eu cheguei a pensar que não passava de um sonho. Não era possível, a pessoa na qual eu mais amava sequer sabia quem eu era. A pessoa que me criou não lembrava das minhas façanhas enquanto criança, não lembrava do meu rostinho sorridente pedindo para que me ensinasse a fazer tudo o que hoje eu sei. Eu era apenas mais uma pessoa que a cercava, só mais uma estranha.


- O quadro dela piorou muito só nessa semana, o que a gente vai fazer Tânia? – meu pai perguntara a minha tia.


O mais triste era que todos sabiam o que ela tinha, mas ninguém manifestava. Talvez querendo me proteger de tal baque.

- O enfermeiro disse que ela está com Alzhaimer. – minha tia terminou.


E eu não desistia do meu bem mais precioso. Era o mínimo que eu podia fazer naquela hora.


- Vó, por favor, olha pra mim! A senhora não se lembra de mim?! – eu tentava mais do que nunca faze-la se lembrar.


Minhas mãos pousaram sobre uma de suas mãos. Eu fiquei apertando suas veias saltadas, como sempre fazia.

Um sorriso, foi o que recebi. Ela mudara seu modo de olhar. Olhava com uma certa ternura, e aquilo de certa forma me assustou.


- Ga... Ga... Gabi... – as sílabas pronunciadas me encheram de alegria. – Gabriella, Gabriella... – e aquilo ia me deixando mais feliz. As lágrimas escorreram involuntariamente, e eu abracei-a, soluçando. – Gabriella... minha netinha.


Minha tia nos separou e me abraçou muito forte, não queria me soltar, mas ela não entendia que o que eu mais queria estava ao meu lado.

- Filha, a vó ta muito esquecida, certo? Então não vamos tentar forçar muito a memória dela. Fique você sabendo que ela só se lembrou da garotinha loirinha que vivia na casa dela... de mim, do seu pai e do seu tio ela sequer sorriu reconhecendo nosso rosto. Ela ama muito você, por isso se lembrou. Eu não quero que você fique mal por isso, – disse limpando minhas lágrimas – e sempre que você quiser, você pode vir visitá-la, ok?


Eu não conseguia falar. Apenas me desvencilhei dos braços da minha tia para voltar àquele ser que me olhava ainda sorrindo.

- Por que você ta chorando minha filha? – minha avó perguntou.


- Nada não vovó! – eu tratei de colocar um sorriso no rosto para alegrá-la.

Ficamos ali fazendo companhia a ela até terminar o horário de visita.

Eu me despedi com o abraço mais apertado que pude dar, e eu sentia um enorme aperto no peito.

Quando meu pai abriu a porta do carro, eu tive a pior sensação do mundo, e olhei para trás. Ela ainda me olhava, com aquele sorriso lindo no rosto. Eu respirei fundo e entrei no carro.

Ao fechar a porta, meu olhar era fixo para o nada.


- Você ta bem? – meu pai perguntou um tanto angustiado.


- Não. – minha resposta soou tão fria quanto a que tinha recebido há horas atrás. – Eu não sei por que, mas eu tenho a sensação de que essa é a ultima vez que eu vejo ela bem. – mal sabia eu de que era a ultima vez que ela pronunciara algo para mim.

Meu pai apenas consentiu, ligou o carro e partimos.


Hoje em dia, é triste pensar que a pessoa que eu mais dependia não está aqui pra me dar apoio, incentivar as minhas besteiras ou colocar um instrumento musical na minha mão e não deixar-me sair da cadeira enquanto não tirar alguma cantiga de roda, mas o mais triste ainda é pensar que quando eu a tinha aqui, eu não dava seu devido valor. O que ultimamente me motiva é o fato dela ter me amado o bastante para poder se lembrar de mim em meio a tantas outras coisas muito mais importantes que eu.



Cecília Fernandes, esteja certa que por mais longe que possa estar, você me ensinou a ser o que hoje eu sou, e que parte de você ainda vive em mim!"

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