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03 junho 2014

Esses dias me peguei relembrando os acontecimentos dos últimos anos. Alguns engraçados, outros terrivelmente angustiantes, dois ou três que me arrancaram sorrisos bobos... todos com seu peso e consequência direta no que hoje digo ser minha maturidade.

Chega até ser clichê comentar que os tais dois ou três ocorridos destacados subjetivamente como "bons" são parte dos terrivelmente angustiantes...

Fico me perguntando porque alguns atos bobos marcam certas pessoas de forma tão significativa enquanto outras que tentaram mover montanhas para me arrancar sorrisos foram contempladas com meu total desinteresse. Seria amor? Talvez ódio? Karma, quem sabe? Não sei.

De maneiras mil tentei jogar grande maioria dessas lembranças no fundo de um arquivo na minha cabeça e nunca mais fuçá-los. E adivinhe só, foi impossível, claro.
Ainda reluto contra todas elas pelo simples fato de me sentir em uma montanha russa revivendo-as, sendo a ultima parada numa verdadeira fossa.

Creio que meu maior mal seja exímia memória para coisas ruins e o rancor que guardo dessas lembranças e pessoas. Já travei cruzadas contra esse odioso defeito pra me livrar dele de uma vez por todas, porém, a unica saída, conforme Chopra, é aceitar (dói menos).

Tenho vontade de encher cabeças com mil perguntas (de novo e de novo) sobre todas essas coisas que me atormentam pra tentar garantir um pouco de paz de espirito, mesmo que por pouco tempo. Entretanto, as vezes (sempre) me falta coragem, ou simplesmente paciência.

Paciência; palavra bonita, transbordante de virtude e sempre ausente na presença das "cabeças".

Sabendo, ainda, que essas palavras ao léu serão bem ou mal interpretadas (já pouco me importa) pelos indivíduos que as motivaram, direi-as sem pudores. Me resta muita coisa para preocupar-me, inclusive nada.



PS.
Obrigada por tudo, incluindo a aversão que criei por vossa presença.


01 outubro 2013

Gota de Petróleo

"Cansei de escrever-te cartas sem ter as merecidas respostas. A todo instante me dão mil e dois motivos para a coragem me invadir e procurar saber a seu respeito; sobre o que você está pensando e o que quer.
Essa tal coragem já me tomou algumas vezes, sendo ela subjetiva e o inverso. A ultima tentativa foi, de longe, a melhor de todas, confesso. Entretanto, disso tudo, só há um 'porém', como mesmo dito por ti, não tem como tentar sozinho.
Engraçado é que não consigo ver-te sem compará-lo a uma gota de petróleo em meio a uma imensidão de água. A pequena gota sempre estará ali. Por mais turbulento que esteja o meio liquido, e o óleo disperso, ela nunca de misturará ao restante. Será sempre o diferencial total da imensidão, única.
O estranho disso tudo é que tenho quase certeza de que o que aguardamos são os bons e velhos 5 minutos de loucura para despejar tudo o que nos deixou engasgados e liberar o famoso 'seja o que Deus quiser'.
Bem, não sei se poderei confirmar esse ultimo paragrafo daqui uns anos. O que te posso assegurar é que tu ainda fazes um inferno do meu psicológico.
Até qualquer dia."


Ela pendurou o bilhete no monitor do notebook, pegou alguns pertences, e foi-se embora.



"Você não me deixa em paz! Esculpe meu coração de pedra, eu desisto toda vez.
Eu aposto que você acredita que eu estou melhor com você do que com outra pessoa." ♫ (My Heroine - Silverstein)

17 agosto 2013

Preciso dizer...

Quando a gente conversa contando casos, besteiras, tanta coisa em comum deixando escapar segredos... e eu não sei que hora dizer; me dá um medo, que medo.
E até o tempo passa arrastado, só pra eu ficar do teu lado. Você me chora dores de outro amor, se abre e acaba comigo. E nessa novela eu não quero ser teu amigo.
Eu já nem sei se eu tô misturando, eu perco o sono lembrando em cada riso teu qualquer bandeira, fechando e abrindo a geladeira a noite inteira.
Eu preciso dizer que eu te amo, te ganhar ou perder sem engano. Eu preciso dizer que eu te amo tanto.


(Preciso dizer que te amo - Cazuza)

31 julho 2013

Capítulo XXI

"E foi então que apareceu a raposa:
- Boa dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira…
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita…
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste…
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer “cativar”?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer “cativar”?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços…”
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor… eu creio que ela me cativou…
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra…
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor… cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto…
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração… É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse…
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele…
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa… repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa…
- Eu sou responsável pela minha rosa… repetiu o principezinho, a fim de se lembrar."
(O Pequeno Príncipe - Capitulo XXI)



"Eu já te via muito antes nos meus sonhos
Eu procurei a vida inteira por alguém como você
Por isso eu canto minha vida com orgulho
Com melodia, alegria e barulho" ♪ (Dias de Luta, Dias de Glória - CBJ)

02 julho 2013

Seja o que for...

Hoje me perguntaram se eu sei o que é sentir a falta de alguém. 

Bem... a principio é uma pergunta fácil de responder, entretanto, não é nesse ponto superficial que quero chegar. 
Já deu pra perceber que boa parte das publicações feitas aqui são um tanto cheias de significados intrincados nos quais somente eu e mais duas ou três pessoas saberiam interpretar; sendo boa parte dessas publicações, textos meio blue. Claro que, nunca fui muito de confessar meus reais sentimentos a  ninguém, motivo pelo qual os despejo em forma de algumas palavras aqui, buscando um alívio... quem sabe.

Não sei se seria um bom momento para dissertar a respeito mas, infelizmente, nesse meio tempo de Blog, perdi de duas formas literais muitas das pessoas queridas das quais foram mencionadas (como também não mencionadas) aqui. Sim, duas formas literais! A mais "comum" delas, com a morte. E a segunda, e no meu ver, mais cruel, pela falta de convivência devido fatores externos (vamos deixar assim).

Revirando algumas pastas de fotos, acompanhada de um desabafo incomum de minha mais nova confidente e ao som do bom e velho Pink Floyd, me bateu uma nostalgia incomum. Uma dor no peito apertando de vontade de falar para alguns deles a falta que me fazem. Entretanto... o orgulho as vezes fala um pouco mais alto.

Uma foto em especial me chamou a atenção. Dois semblantes felizes, almas entregues por inteiro a uma união. Um projeto simples de base fraterna. Digo com toda ênfase do mundo, era meu porto seguro. Era. 

Há uns dois meses tive uma experiência que posso dizer nunca ter tentado antes: falar tudo o que estava engasgado na minha garganta há quase 2 anos para meu (famoso) Interlocutor. Foi, de certa forma, algo bom. Uma sensação gostosa de "Ufa! Um já foi!".  Mas como a vida é uma caixinha de surpresas, isso não valeu de muita coisa, afinal, regredimos pro antigo "oi-tchau" que sempre me matou. A questão seria, então, a possível abordagem dos demais...

Passadas umas duas horas vendo fotos e chorando igual a uma criança em meio a uma guerra, me peguei lembrando de pequenos bordões que fizeram parte da minha fase mais feliz com as pessoas que mais me confortavam, coisas como "abraço ateu", "colo no solzinho do intervalo", "toca com prazer até sair a nota!", "é o Jamal e a Magrela pra sempre!", "minha limoa", "come Tibbers, come with me"...

Acredito que esse vazio todo se deve justamente pelo fato de eu não ser crápula o suficiente para simplesmente substituir essas peças que me acalentaram por tanto tempo. 

Em face a todos os acontecimentos recentes - discussões, desilusões, felicidades instantâneas, burradas, decepções - adotei um termo como "horizonte" para minhas decisões: whatever (seja o que for).

Há alguns minutos atrás, recebi um conselho que confrontou esse termo de frente. Esse conselho era basicamente esquecer o orgulho de vítima e se dar o luxo de simplesmente continuar a viver da mesma forma que antes. Entretanto, isso valerá a pena? 

Apenas o senhor do tempo sabe. 

(apenas sinto a falta da importância que vocês tinham e da razão que me davam para sorrir.)

E o que ensinei a ela era tudo
Sei, ela me deu tudo que ela tinha [...]
E pensamentos confusos invadem minha cabeça [...]
Todo o amor tornou-se mal, transformou meu mundo em escuridão
Tatuando tudo que vejo, tudo o que sou, tudo o que serei. (Black - Pearl Jam)



17 junho 2013

Singrando

"As coisas mais importantes são as mais difíceis de expressar. São coisas das quais você se envergonha, pois as palavras as diminuem, as palavras reduzem as coisas que pareciam ilimitáveis quando estavam dentro de você à mera dimensão normal quando são reveladas. Mas é mais que isso, não? As coisas mais importantes estão muito perto de onde seu segredo está enterrado, como pontos de referência para um tesouro que seus inimigos adorariam roubar. E você pode fazer revelações que lhe são muito difíceis e as pessoas o olharem de maneira esquisita, sem entender nada do que você disse nem por que eram tão importantes que você quase chorou quando estava falando. Isso é pior, eu acho. Quando o segredo fica trancado lá dentro não por falta de um narrador, mas de alguém que compreenda."

Stephen King



Dos nossos planos é que tenho mais saudade
Quando olhávamos juntos
Na mesma direção ♫ (Vento no Litoral - Legião Urbana)